O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

domingo, 10 de abril de 2011

A Vida Abundante de B. H. Carroll

B. H. Carroll, o gigante entre os maiores cristãos, deste século, faleceu em 1914, depois de pastorear por mais de 30 anos a Primeira Igreja Batista de Waco, Texas. Mantinha correspondência com os estudantes de Baylor University. Foi o fundador do Southwestern Baptist Theological Seminary e autor de mais de trinta livros, incluindo comentários sobre a Bíblia.

A Conversão nas suas Próprias Palavras

«Quando contava vinte e dois anos, jurei que nunca mais voltaria a uma igreja. Meu pai falecera na crença que eu estava perdido. Minha mãe (quando é que a mãe abandona o filho?) veio a mim certo dia e pediu-me, pelo amor que eu lhe devotava, para assistir a mais uma reunião. Houve uma série de conferências, no outono de 1865. Não senti, porém, o menor interesse por elas. Gostei dos hinos, mas a pregação não me impressionou de modo algum.

Mas um dia – nunca posso esquecê-lo, – foi num domingo às onze horas. O modesto tabernáculo estava superlotado. Eu me encostara às minhas muletas, suportando indiferentemente a pregação, do lado de fora. O pregador fracassou. Não havia para mim qualquer mensagem no sermão. Quando ele desceu do púlpito, esperei que nos exortasse como sempre o fazia. Mas quão grande foi minha surpresa quando ele iniciou uma série de perguntas que pareciam dirigidas somente a mim. "E vós, que estais rejeitando o Evangelho, escarnecendo de nós povo humilde, que tendes? Respondei honestamente diante de Deus. Tendes encontrado alguma coisa de valor onde estais?"

Meu coração disse, imediatamente: "Nada debaixo do céu, absolutamente nada".

O pregador continuou: "Há algum outro valor na vossa esfera de atividade que valha a pena experimentar?"

Outra vez meu coração afirmou: "Nada, absolutamente nada. Já experimentei todas as estradas do mundo e elas só conduzem ao abismo e à perdição".

"Então, continuou ele, admitindo-se que não haja valor naquilo que estais seguindo, se há um Deus, não deve haver alguma coisa de valor em alguma parte? E, se houver, porventura não estará ela aqui? Estais dispostos a experimentar para crer? Tendes a honestidade e a coragem necessárias para a prova? Não estou pedindo que leiais qualquer livro, nem busqueis testemunhos ou façais sacrifícios em exaustivas romarias. Este caminho é longo demais e o tempo urgente. Estais dispostos a tomar uma iniciativa, começando uma prova prática e experimental, sendo vós mesmos os juízes do resultado?".

Essas perguntas sensatas e convincentes tocaram-me profundamente, mas não entendi o teste.

O pregador continuou: "Meu teste é baseado em dois trechos das Escrituras: João 7:17 e Oséias 6:3. Pela primeira vez os entendi. Nunca ouvira antes a exposição do primeiro tão exata como ele a deu. Explicando o trecho Se alguém QUISER FAZER a vontade dele, demonstrou que o conhecimento da vontade de Deus depende de nossa disposição interior ou do desejo íntimo de obedecê-la e realizá-la. Deus está pronto a revelar Sua vontade àqueles que desejam executá-la.

Do outro trecho também recebi nova luz: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor". Isto significa que, o conhecimento verdadeiro é obtido pela persistência em buscá-lo, e não pelas investigações temporárias e inconstantes.

Quando o pregador convidou os que quisessem submeter-se a um teste experimental para chegar à frente e, apertar-lhe a mão, fui imediatamente. Não esperei pela emoção que o convite despertaria na congregação. Minha incredulidade e atitude hostil eram conhecidas na vizinhança, de modo que a minha ida à frente causou grande sensação. Alguns chegaram até a gritar de alegria! Com o intuito de evitar qualquer equívoco, eu me levantei e disse que não estava convertido; que talvez eles estivessem interpretando erroneamente minha decisão de atender ao apelo do pregador; que o meu coração permanecia tão frio como gelo. Expliquei que, aceitando a sugestão do pregador, estava disposto a fazer um teste sobre a verdade e o poder da religião cristã. Confessei que estava pronto a perseverar na experiência até que uma solução verdadeira fosse encontrada. Estas palavras acalmaram a todos.

As conferências encerraram-se sem qualquer mudança em mim. O último sermão terminara e a despedida fora feita. A congregação ia-se dispersando. Algumas senhoras permaneceram perto do púlpito, cantando. Senti que meu teste já havia sido feito sem que qualquer solução para meu problema fosse encontrada. Fiquei, atraído pela música, e ouvi:

"Ó terra de descanso entre as estrelas no ar,
Na saudade de ti, neste anseio que vivo,
Quando o instante feliz em que irei descansar?"
Vem a Mim

"Este hino impressionou-me profundamente. A música era tão suave como o roçar de asas de anjos. De súbito, vieram-me à mente, como luz do céu, estas palavras de Jesus: "Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Não via Jesus com os meus olhos, mas tinha a impressão de que O contemplava diante de mim, olhando-me com terna repreensão. Parecia repreender-me por ter ido a todas as outras fontes em busca do descanso, menos à verdadeira fonte. Agora Ele estava apelando e convidando-me para ir a Ele. Repentinamente, de uma vez para sempre, lançei-me aos Seus pés, sem reservas. E naquele instante encontrei o descanso que perdura até hoje.

Não falei publicamente sobre a mudança que se operou em mim, mas passei uma noite gozando-a e imaginando se ela ainda estava comigo até a madrugada. Raiou a aurora e ela ainda estava, mais brilhante que os raios do sol e mais doce que o cantar dos pássaros. Então, pela primeira vez, entendi a palavra das Escrituras, que muitas vezes ouvira mamãe repetir.»

O Revestimento do Espírito

O Dr. Carroll, falando acerca da plenitude do Espírito no viver e no servir, relata, no livro "The River of Life", p. 160, o seguinte fato:

"Três homens tinham concordado em estudar o Novo Testamento e todos os ensinamentos nele contidos a respeito do Espírito Santo. Depois do meticuloso estudo, todos os três chegaram à conclusão de que, quando o crente recebe o dom do Espírito Santo, esse fato importa numa transação definida; que nessa transação aquele que recebe tem certas obrigações a cumprir; que essa transação é tão definida como a fé em Cristo. Que o crente tem que crer no Espírito da forma como creu em Cristo; e que, pela fé, ele deve receber o Espírito como recebeu Cristo.

Depois dessa ilação, um dos três disse: – Estou certo de que ainda não recebi a plenitude do Espírito.

- Por que dizes isso? Inquiriu-lhe o outro.

- Porque não recebo as Suas manifestações. Confio em Jesus Cristo como meu Salvador, estou convertido, mas vida cristã deixa muito a desejar. Não tenho alegria bastante no meu coração. Desejo sentí-la de maneira mais intensa. E, além de tudo isso, não tenho, absolutamente, nenhum poder.

- És sincero nesse anseio do coração por esse dom que te encherá de alegria e poder em relação a Deus e aos homens? perguntou-lhe o outro.

- Sim.

- É somente alegria o que está buscando?

- Não, não é isso; parece-me que o meu testemunho de crente tem pouco valor. Não exerço nenhuma influência sobre as outras pessoas. Não tenho podido orar como desejaria fazê-lo. Quando estou orando, não tenho aquela sensação de estar em contato com Deus.

- Gostarias de gozar essa comunhão? perguntou-lhe o outro.

- Por certo.

- Estarás disposto a fazer exatamente o que a Bíblia manda para alcançar essa vitória?

- Estou.

- Começarás agora mesmo?

- Pois não.

Conheci bem esse caso. Posso acrescentar ainda que eu era uma dessas três pessoas. Se quisesse, poderia citar o nome das outras, mas não o farei.

Aquele homem lutou durante três semanas, desesperadamente, purificando-se para ser digno de receber o Espítito; levando a sua fé até o ponto de aceitar a promessa e jamais abandoná-la. Gastou três semanas nessa labuta, mas a questão de tempo pouca diferença faz. Não precisaria ter demorado tanto, do mesmo modo que um homem não precisa de um mês para aceitar Cristo; mas algumas pessoas alcançam essa experiência desse modo, e a ele custou três semanas estar pronto. Entretanto, uma coisa é certa: ele recebeu o dom do Espírito, o qual lhe trouxe alegria consciente e eterna, dando-lhe um poder que não trocaria por toda riqueza do mundo".

Na explicação que o Dr. Carroll dá sobre esta vitória, no seu livro encontramos:

"Todo crente é completo em Cristo, isto é, quando recebemos Cristo, somos herdeiros de toda a herança que Cristo tem para nós. Mas somente pelo Espírito é que podemos nos apoderar de qualquer parte desta herança. Tomamos posse desta herança, bênção por bênção, à medida que temos capacidade para isto. Todas as bênçãos são garantidas a nós por meio de promessas. Pela fé temos de lançar mão e nos apropriar de cada uma delas.

1. Todas as dádivas, graças e bênçãos da salvação são dadas a todos os crentes por meio de Cristo.

2. Aceitando Cristo, temos direto a todas elas.

3. Todas estas bênçãos são asseguradas pelas promessas de Deus.

4. Nenhuma delas é conseguida por nós sem que o Espírito Santo no-las aplique.

5. Esta aplicação não é feita de uma só vez e nunca devemos presumir que a possuímos sem que nos apropriemos dela.

6. O crente é levado pelo Espírito a pedir em oração, reclamar, esperar e lançar mão de cada bênção, uma por uma.

Sim, eu afirmo que o crente tem de reclamar seu direito e pedir a realização da promessa. Ele tem de pedir e esperar; e, por um ato especial de fé, lançar mão e se apropriar dela. Desta maneira Deus a cumpre.

Há certas promessas divinas que os crentes desta igreja e muitos outros têm o direito de gozar por terem aceito Cristo, mas jamais as gozaram e estão falhando em possuir essas bênçãos, e isto lhes rouba a alegria e o poder cristão. A falta de alegria e poder cristão não só desonram Cristo, diminuindo Sua riqueza e graça, mas rouba a luz e a influência dos crentes.

O que estamos considerando agora é uma bênção para o cristão – o homem convertido, não para fazê-lo um filho de Deus – mas porque ele já é filho de Deus, como no caso idêntico de adoção do Espírito. "E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu filho, que clama: Abba, Pai".

Disse ainda o Dr. Carroll, em seu livro sobre o Espírito Santo: "Minha pregação de hoje forçosamente seria vã sem o Seu selo; não ousaria esperar êxito com palavras persuasivas de sabedoria humana. Quero dizer que o culto de hoje seria bronze que soa e címbalo que tine, se não realizado com demonstrações do Espírito e do poder. Ele é o Vigário de Jesus Cristo, e, portanto, Seu mais leve murmúrio de aprovação, ou seu mais breve olhar de encorajamento devem significar, e de fato significam (Deus julgue da verdade das minhas palavras), mais que os aplausos de todo o universo ou todos os elogios que jamais partiram de lábios humanos."

Do livro Labaredas de Fogo, de 1962, de Rosalee Appleby.

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